sexta-feira, 18 de abril de 2008

Hora de trocar preocupação por barro molhado


Já passa de um ano que ocupo meus sábados, manhã e tarde, com a pós-graduação no Instituto de Artes da UNESP. Gostei de muita coisa que aprendi, outras nem cheguei a aprender, mas nada se compara às sensações que a disciplina “Cerâmica, criatividade e panorama histórico” têm me proporcionado. Ministrada pela professora-doutora Geralda Dalglisch, a “Lalada” como ela gosta de ser chamada, a disciplina propõe um conhecimento da arte ceramista para além dos registros históricos e de sua importância antropológica – conforme sugerido no título –, exigindo vivência da arte, o que significa, literalmente, pôr a mão na massa.
No começo não achei nada divertido, mas concordei em comprar os 10 kg de argila necessários para as primeiras experiências, além de pincéis, azulejos, colher, barbante, tesoura e outros apetrechos. Na primeira aula prática fiquei meia hora olhando o material e as ferramentas, sem a menor disposição para começar. Aliás, começar o quê?? Não tenho nenhuma habilidade com as mãos e nem paciência para criar formas que mereçam ser admiradas. Apesar do incentivo dos colegas, optei pela fuga. Isso mesmo: aquele monte de barro me intimidou.
Na semana seguinte, lá estava a argila me esperando e então não tive opção senão encará-la. Comecei com raiva, decidido a fazer o que fosse necessário para acabar logo com aquilo. Para meu desespero, descobri que o primeiro trabalho não utilizava nem 20% do torrão molhado pelo qual paguei R$ 20,00. E agora? A única saída era pensar em outras peças para gastar a argila o mais rapidamente possível. Mas aí, epa! não é que comecei a gostar? Sem mais nem menos, me flagrei pensando em comprar mais argila para continuar a brincadeira em casa – criar objetos, compor mosaicos, imitar formas, modelar, experimentar... enfim, reviver as tardes de sábado no ateliê da pós, em que uma preocupação se torna maior que todas, mais importante e mais urgente, expulsando as demais: a preocupação com a forma a ser dada ao barro molhado que tenho diante de mim.
Nunca pensei em ser artista. Acho que nunca serei, pois não tenho jeito para a coisa. Mas confesso que essa história de, de vez quando, trocar um monte de preocupações por um monte de barro, está me seduzindo...

A quem possa interessar: o lato sensu “Fundamentos da Cultura e das Artes” é oferecido pelo Instituto de Artes da UNESP a cada dois anos. Mais informações podem ser obtidas na página do Instituto:
www.ia.unesp.br.

Um comentário:

Anônimo disse...

Emerson

Mas olha só que interessante, Elizeu esculpindo em barro, fantástico. E tira essa história de que não é artista rapaz, diagramador a tantos anos, você só fez arte na vida, pense bem. Diagramou em past-up, depois na tela do computador e agora em "barro".