quinta-feira, 29 de julho de 2010

A pieguice de Vik Muniz

Que tal comprar uma jóia e carregar a embalagem pendurada no peito? Guardadas as diferenças, é o que propõe a mostra “Verso”, do festejado artista plástico Vik Muniz, inaugurada hoje na Galeria Fortes Vilaça, em São Paulo.


Embora diferente, a ideia é simples: mostrar o verso de obras célebres como “Les Demoiselles d’Avignon”, de Picasso, “Starry Night”, de Van Gogh, “Samba”, de Di Cavalcanti e “O Abaporu”, de Tarsila do Amaral, entre outras, devidamente identificadas com inscrições à mão e etiquetadas pelos museus onde já foram expostas. Não contente com a esquisitice de mostrar apenas o dorso das obras famosas, o artista o faz apresentando reproduções.

Desde que Duchamp levou urinol e roda de bicicleta para dentro das galerias, as artes visuais encontraram uma nova expressão – tridimensional e desvinculada da representação formal. Ocorre que Duchamp era um tirador de sarro que certamente rola de rir na tumba com a “pagação de pau” das plateias compenetradas diante de seu urinol-arte – como tive oportunidade de presenciar na exposição comemorativa dos 60 anos do MAM de São Paulo, ocorrida em 2008. “Banalizaram a arte!”, gritava o urinol de Duchamp para a sociedade da época. Pois a atual consegue ser pior, sacralizando banalidades.

Vik Muniz ficou conhecido nos anos 1990 por utilizar materiais inusitados para reproduzir imagens consagradas, como a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, reproduzida com pasta de amendoim, e obras de Monet reproduzidas com açúcar mascavo. Quem adquire as “obras” leva para casa apenas a reprodução fotográfica das mesmas. Ou seja, o festejado artista vende reproduções de reproduções.

Ao apresentar cópias (muito bem acabadas) do verso das obras, Muniz propõe trocar a fruição estética pela atitude consumista, reforçando o primado do objeto sobre o conceito, do tangível sobre o intangível, do palpável sobre o abstrato, da embalagem sobre o conteúdo. Exibir a caixa de jóias no peito é piegas, todos hão de convir, da mesma forma como talvez concordem que é piegas a mostra de Vik Muniz.