domingo, 3 de outubro de 2010

A Origem: um filme para abalar convicções

O filme "A Origem" (Inception, EUA, 2010. Direção: Christopher Nolan) convida o espectador a mergulhar no universo dos sonhos qual um caçador de pérolas que vai buscar seu tesouro sob as águas, em abismo incerto. No caso, o tesouro consiste na gênese das nossas convicções, a origem das certezas que determinam nossas escolhas e influenciam o cotidiano.

Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um ladrão de sonhos, reconhecido como o melhor de todos. Ele domina com maestria a perigosa arte de invadir sonhos alheios para arrancar informações que podem valer milhões de dólares no competitivo mercado das grandes corporações.

O pedido de um cliente, no entanto, é considerada uma empreitada arriscadíssima até para o experiente Cobb. Ao invés de roubar informações, ele precisará mergulhar nos sonhos do magnata da área energética Robert Fischer (Cillian Murphy) para plantar uma ideia que posteriormente resultará em decisões que interessam ao contratante. Para isso, ele precisará explorar profundamente a psique da vítima, invadindo sonhos após sonhos, um dentro do outro, até um nível seminal no qual a semente possa ser lançada.


Cobb só aceita o risco porque receberá como recompensa a possibilidade de se reunir novamente aos filhos nos EUA, de onde fugiu por causa da acusação de ter matado a própria esposa Mal (Marion Cotillard).

Dom Cobb não age sozinho. Sobre os demais personagens, vale a pena ler duas postagens em blogs: o Saindo da Matrix (clique) faz uma interessante exegese dos nomes dos personagens; já o The World Is Garbage! (clique) analisa os personagens na perspectiva dos arquétipos junguianos.

É deliciosamente perturbadora a dúvida que Christopher Nolan semeia com seu festejado filme: qual é a origem das nossas convicções? Pode ser perturbador nos darmos conta de que algumas das nossas crenças mais firmes resultam de intervenções (na psicanálise, a condução do fluxo de pensamentos por outrem) efetivadas pela família, pela igreja, pela escola, pelo Estado, pelo discurso hegemônico dos meios de comunicação etc. Por outro lado, é delicioso ser lembrado que nossas certezas podem não ser assim tão certas, o que nos desobriga de cumpri-las ao pé da letra.

A Origem é um filme antológico repleto de efeitos especiais absolutamente necessários, diferentemente do que se vê frequentemente nas produções hollywoodianas.

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