quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Rapaz denuncia quem teria jogado objeto em José Serra


Com a condição de sigilo, um rapaz afirmou que a bolinha de papel que atingiu o candidato José Serra foi atirada pelo coordenador da campanha do tucano, o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE). Segundo a fonte, Guerra queria chamar a atenção do candidato mas não conseguia, por causa da distância. Decidiu então amassar um bilhete que trazia no bolso e arremessar em José Serra. Assista o vídeo da reportagem feita pelo SBT e reproduzida no Youtube.

Guerra ficou profundamente preocupado, por saber que Serra tem miolo mole e que nada pode atingir sua cabeça, pois ele sente tonturas e náusea. No entanto, em seguida ficou ficou aliviado ao perceber que nada tinha acontecido ao candidato, mas a tranquilidade durou apenas 20 minutos. Um manifestante do PT ligou para o ex-governador e o avisou que ele tinha sido atingido. “Foi pura maldade! Só para prejudicar o Serra”, revolta-se o informante. “Ele nem tinha percebido, mas aí vem esse mau caráter e avisa e o candidato começou a passar mal”.

O boletim médico divulgado hoje de manhã informa que o candidato continua abilolado.

MENTIRA POR MENTIRA, PREFIRO A MINHA.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Marina... você se pintou?

Nunca tinha reproduzido textos de outros autores no meu blog. Mas a carta aberta à senadora Marina Silva, escrita pelo filósofo Maurício Abdalla, justifica a exceção.

Maurício Abdalla*

“Marina, morena Marina, você se pintou” – diz a canção de Caymmi. Mas é provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal ideal:mulher,militante, ecológica e socialmente comprometida com o “grito da Terra e o grito dos pobres”, como diz Leonardo.
Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito a escolhas partidárias?
Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as “famiglias” que controlam a informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito.
Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua candidata. Mas “os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz”. Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.
Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. “Azul tucano”. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e nossos inimigos viscerais.
Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa de propagar a “vitória da Marina”. Não aceite esse presente de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela se dirige.
“Marina, você faça tudo, mas faça o favor”: não deixe que a pintem de azul tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você “tanto faz”. Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem “esse rosto que o povo gosta, que gosta e é só dele”.
Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. “Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu”.

* Professor de filosofia da UFES, autor de Iara e a Arca da Filosofia (Mercuryo Jovem), entre outros.


domingo, 3 de outubro de 2010

A Origem: um filme para abalar convicções

O filme "A Origem" (Inception, EUA, 2010. Direção: Christopher Nolan) convida o espectador a mergulhar no universo dos sonhos qual um caçador de pérolas que vai buscar seu tesouro sob as águas, em abismo incerto. No caso, o tesouro consiste na gênese das nossas convicções, a origem das certezas que determinam nossas escolhas e influenciam o cotidiano.

Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um ladrão de sonhos, reconhecido como o melhor de todos. Ele domina com maestria a perigosa arte de invadir sonhos alheios para arrancar informações que podem valer milhões de dólares no competitivo mercado das grandes corporações.

O pedido de um cliente, no entanto, é considerada uma empreitada arriscadíssima até para o experiente Cobb. Ao invés de roubar informações, ele precisará mergulhar nos sonhos do magnata da área energética Robert Fischer (Cillian Murphy) para plantar uma ideia que posteriormente resultará em decisões que interessam ao contratante. Para isso, ele precisará explorar profundamente a psique da vítima, invadindo sonhos após sonhos, um dentro do outro, até um nível seminal no qual a semente possa ser lançada.


Cobb só aceita o risco porque receberá como recompensa a possibilidade de se reunir novamente aos filhos nos EUA, de onde fugiu por causa da acusação de ter matado a própria esposa Mal (Marion Cotillard).

Dom Cobb não age sozinho. Sobre os demais personagens, vale a pena ler duas postagens em blogs: o Saindo da Matrix (clique) faz uma interessante exegese dos nomes dos personagens; já o The World Is Garbage! (clique) analisa os personagens na perspectiva dos arquétipos junguianos.

É deliciosamente perturbadora a dúvida que Christopher Nolan semeia com seu festejado filme: qual é a origem das nossas convicções? Pode ser perturbador nos darmos conta de que algumas das nossas crenças mais firmes resultam de intervenções (na psicanálise, a condução do fluxo de pensamentos por outrem) efetivadas pela família, pela igreja, pela escola, pelo Estado, pelo discurso hegemônico dos meios de comunicação etc. Por outro lado, é delicioso ser lembrado que nossas certezas podem não ser assim tão certas, o que nos desobriga de cumpri-las ao pé da letra.

A Origem é um filme antológico repleto de efeitos especiais absolutamente necessários, diferentemente do que se vê frequentemente nas produções hollywoodianas.