A história é narrada pelos irreverentes e debochados escravos Tião e Zefa, que mais parecem flanelinhas dos dias atuais que escravos do século XIX. Nada demais numa montagem em que D. Pedro I entra em cena consultando um relógio de pulso e que, a certa altura, reaparece envergando uma camisa do Vasco da Gama (!) enquanto reclama da implacável gonorréia.
A peça faz rir porque o sujeito que se apresenta como Imperador do Brasil lembra muito aquele primo fanfarrão que todo mundo tem na família, e a Marquesa de Santos é tão interesseira quanto as moças que não se casam enquanto não encontram alguém disposto a sustentá-las. Ou seja, ri-se diante do espelho. Se você acha que cada país tem o dirigente que merece, comente abaixo. Comente, também, se você acha que a vida pessoal dos dirigentes não influencia em nada o destino dos povos.
A peça abusa de chavões, como quando Domitila diz “O Brasil é rico, o povo que é pobre” ou quando cobra indenização “por serviços prestados” ao romper o romance com D. Pedro I. Entretanto, isso não compromete o riso motivado pelo excelente casamento entre o timing do texto de Ênio Gonçalves e a interpretação do quarteto Igor Kovalewski (D. Pedro I), Ana Paula Vieira (Domitila), José D’Lucena (Tião) e Rosana Maris (Zefa).
O teatro Sérgio Cardoso fica na rua Rui Barbosa, 153 - Bela Vista - São Paulo. Telefone: (11) 3288-0136. A peça permanece em cartaz até 30/03.